terça-feira, 25 de novembro de 2008

Enfim entrei no meu inferno astral



Segunda-feira, 24 de novembro de 2008. Olho o calendário ressabiada, hoje é segunda e eu odeio esse dia. Hoje começa minha TPM, pois meus seios já estavam doloridos desde domingo. E daqui à um mês exatamente eu faço 29 anos. Para completar o quadro decido iniciar hoje meu regime "pró-Verão 2009".


Por ser segunda-feira nada demais. Se o primeiro dia da semana fosse terça, eu o odiaria também. Já estou conformada, pois na segunda não se trabalha com afinco, muitas histórias para contar sobre um fim de semana prolongado, regado a futebol, viagens, corridas, presepadas... E se trata do dia mais distante da próxima segunda...


A TPM está no papo. Minha ginecologista receitou-me um remedinho que, disse ela, é tiro-e-queda. Leio a bula atentamente, letras minúsculas e nomes biologicamente infelizes, as 6h30 da manhã, ouvindo o Primeiro Programa na Transamérica, de roupão cor-de-rosa e toalha vermelha na cabeça. Tomo a primeira pílula e, como mágica, já me sinto melhor. Nem os beijos melados que meu pai me deu na bochecha, junto com os abraços desajeitados me tiraram o bom humor da manhã. Se tivesse uma balinha Tic Tac nesse mesmo envólucro, me faria o mesmo efeito?


Inferno astral? Sim, eu acredito, e sempre o vivi com a mesma intensidade dos apelos natalinos. Apelos estes que a cada ano se iniciam mais cedo. E com a crise então, as promoções de Natal já começaram!!!
Não é fácil fazer aniversário na véspera de Natal. E eu já escrevi sobre isso, e ressalto, competir com o nascimento de Jesus, com Papai Noel, ceia de Natal, amigo secreto em família, peru de Natal, presentes de última hora, árvore de Natal, pisca-pisca, estrela de Belém, os três Reis Magos, especial da Globo apresentado pelo Faustão de terno vinho de veludo molhado, especial do Rei Roberto Carlos, missa do Galo, queima de fogos de artifício... Ufa, acho que esqueci de alguma coisa... Ah sim, esqueci do meu aniversário. Todo mundo esquece. Agora é a minha vez de esquecer também.


E vejam vocês a ironia do destino. Por diversos anos trabalhei como Empacotadeira d'O Boticário do Shopping Center Norte (está lá, registrado na minha carteira profissional, mostro para quem quiser conferir, antes de ser Engenheira, fui Empacotadeira - e não era nas Casas Bahia, com o perdão da rima de Mama África de Chico Cesar), às vezes no dia dos namorados, às vezes dia das Mães, mas sempre no Natal, durante o mês de dezembro, desde o primeiro fim de semana de dezembro das 10 da manhã às 11 da noite, até às 18 horas do dia 24 de dezembro... Mal via a luz do dia, se chovia ou se ventava, ficava em pé por horas, por miseros 320 reais. As meninas da loja já me conheciam, preparavam uma pequena comemoração, só pra não passar em branco, mas o cansaço era tanto que nem se emocionavam... À mim sim, a emoção era grande, importante, já que meus amigos não se lembravam de me ligar nesse dia tão tumultuado. Eu era adolescente, me importava muito com isso. Não que eu não me importe hoje, mas é bem diferente. Pois eis que eu me surpreendo com a magnífica promoção lançada esse ano para os aniversariantes natalinos: "Quem nasce no Natal merece 2 presentes". Pois bem, e eu nem no Natal nasci, e sim na véspera. No site há um link de um Presentômetro, ele faz um cálculo de quantos presentes você deixou de ganhar por fazer aniversário no Natal. Eis que eu, sem nada para fazer, preencho os campos com minha idade, chuto 10 parentes, 5 namorados que tive, chuto 30 amigos verdadeiros, e chuto 10 puxa-sacos, o site calcula que eu perdi 1540 presentes. Isso derruba a moral de qualquer ser humano! Para que fazer isso com os pobres "natalinos"???? Mas não, a mim não vão afetar com esse número, de jeito nenhum... E ainda pula uma frase no site escrita assim: "Quanto amigo, hein. Já sei: você é loira de olhos verdes." Aooooonde? Lógico que depois dessa frase, coloquei no papel nome por nome os meus verdadeiros amigos, porque eu havia chutado o número. E enquanto escrevia, me lembrei de um texto que ouvi no Primeiro Programa, que dizia para você pensar em seus amigos de verdade. Depois, analisar quais deles carregariam o seu caixão. Não é para ser mórbido, é só para você conseguir peneirar dentre os que você considerava "verdadeiros", os que realmente iriam largar tudo para ajudar a carregar o seu caixão. E não falo de pessoas fortes, homens, mas os quais estariam ali para ó que der e vier, os que realmente se importam com você, a ponto de lhe dar o último adeus. Espero que nesse momento você deseje estar entre os seis verdadeiros amigos, e não precisam ser os meus, talvez você esteja de passagem nesse blog e nem me conheça, talvez você me conheça mas nem goste de mim, talvez seja meu colega apenas, mas reflita se você é um amigo verdadeiro de alguém nesse mundo, pois dos 30 que eu chutei inicialmente, num repente consegui escrever 24 nomes, para os quais há apenas seis alças para levar o meu caixão.


Ah, e mesmo que esses 6, ou 24, ou 30 não me liguem no meu próximo aniversário, ou no Natal, como acontece, só de pensarem por um segundo em mim, só de se lembrarem rapidamente entre tirar o peru do forno e gritar com as crianças para não puxarem a barba do Papai Noel, já me deixa imensamente feliz. Porque eu aprendi a apreciar o Natal, o feriado prolongado, o Reveillon que se aproxima, e a esperança que os dias que virão serão muito melhores!


Se tiver curiosidade, acesse o site http://www.nascinonatal.com.br/ e veja também o vídeo manifesto. Chega bem perto do que eu senti esses anos todos.


Mesmo com a depressão que me assombra nessa época, e mesmo ganhando 1 presente só durante esses 28 anos de comemoração, eu não tiro nunca meu sorriso largo do rosto... Porque sou feliz, muito feliz.